No final das pontas...


Beijo o cigarro com a boca frustrada, desocupada e desarmada.

Engulo a fumaça com fome, como se me oferecesse uma vitalidade diferente do oxigênio e ela brinca pra mim depois, criando nuances excepcionais, me seduzindo para mais uma dança de cheiro repugnante.

Meu pulmão grita, peço pra ele bater um papo com o cérebro, não foi ele que quis assim? O coração nem se manifesta, não tem nada a ver com isso. Acostumou com seu novo amigo.

Sem brigas, sem conflitos, meu sangue já sabe que ta tudo resolvido. Espalhe a noticia que o vicio é bem vindo... Ta dizendo o que eu não consigo e calando o que eu preciso. E mesmo que faça sua morte precoce, serviu pra alguma coisa, família não é bem isso?

Beijo meu cigarro com o lábio macio aliviando o impacto do toque. Ando de mãos dadas e ele me passa confiança. Se a ele pertencer a minha falência vital, não lamentarei. Ajudou a estender vários dias da minha vida, aliviou dores que só o peito sabia. Se agora toma o lugar dos meus defeitos, foi ao menos uma boa companhia.