Minha sogra viu minha bunda

Estive pensando sobre ela ter visto essa pequena saliência de crateras maiores que a vulgaridade explicita. Logo percebo que o problema não foi ela ter visto uma bunda, afinal existem bundas pra todo o lado ( televisão, outdoors, supermercado, bares, igrejas, praças, bancos, floriculturas, prefeituras, terreiro de umbanda...) nunca vi ninguém que não tivesse um pedaço de carne molenga pra amortecer o descanso ao sentar (a não ser a inspetora da escola, quem estudou comigo sabe), a aflição contida nessa história toda, foi que a coitada da minha sogra, que nem é minha sogra, viu a MINHA BUNDA.

Eu não sou do tipo brasileira padrão, começando pela intolerância a calor, cheiro de churrasco e calcinha de biquíni contornando a separação de nádegas redondinhas, que da vontade de passar a mão rezando pai nosso e estalando o mindinho do pé... Minha bunda não chama atenção, ela é algo irrelevante... Tão irrelevante que... NÃO, EU NÃO ANOTEI A PLACA DO CARRO!

Eu sei que ela não ficaria surpresa com a minha cara de pau se houvesse se surpreendido primeiro com uma bunda linda, redondinha, lisinha e suculenta... Será que ela rezaria o pai nosso?

Bom, o Credo foi pronunciado com toda certeza, tenho fé quanto a isso... E entre orações e mantras, espadas e escudos, cicatrizes e neon... Sinto-me como uma minhoca gorda e suada, na onde suas extremidades... Suas extremidades... Ah, amigo... A cara aqui também é de bunda.

Um puta sono do cão

Ela anda como se estivesse numa passarela. Ela até que é bonitinha, mas tem aquele jeitinho de quem usa e faz o que está na moda. Ela diz que é legal. Uma pessoa muito legal, apesar de “quem olha acha que sou chata”. Ela é chata. Chata e sem graça. Ela vai a baladinhas e bares da moda. Ela rebola os joelhos e deixa a bunda dura. Ela balança os cabelos e te chama pra dançar. Ela adora dançar o “créu”, “tô co cu pegando fogo” e “é do meu pau que você gosta, é o meu pau que você quer”. Adora se insinuar para os caras mais sem graça e babacas da festa, que ficam com outras. Ela paga de bêbada, mas só toma vinho com leite condensado. Ela paga de putinha, mas aposto que não paga nem boquete. Eu não tenho nada contra ela, mas fiquei com sono. Fiquei com um puta sono do cão.



Pescaria


Eu queria dizer uma coisa bonita, algo que fizesse sentir a dormência de uma manhã pré-amanhecida às 23:50, que transcendesse 900 km e calçasse os pés daquele que manca na sabedoria.
Eu queria uma forma bonita de descrever o trajeto da lagrima de meretriz, ressaltar o brilho, feito verniz, no rosto ilustre de quem forja a aparência de santa.
Eu queria dizer alguma coisa muito bonita com os dentes pintados por caleidoscópios, os olhos brilhando como fantasia de escola de samba, e no cabelo, a mais cintilante fita.
Mas poesia se cansou de flores e espera a próxima, inóspita, estação.
Deitada sobre essas linhas as entorta com sua densidade.
Entre linhas a palavra permanece pura,
germina na boca,
ganha idade,
ultrapassa sinônimos velhos,
multiplica seu peso e reação.
Muda, eu reconheço o que eu procurava de belo, linda moça, veja só...
Transformou-se em palavrão.