Pescaria


Eu queria dizer uma coisa bonita, algo que fizesse sentir a dormência de uma manhã pré-amanhecida às 23:50, que transcendesse 900 km e calçasse os pés daquele que manca na sabedoria.
Eu queria uma forma bonita de descrever o trajeto da lagrima de meretriz, ressaltar o brilho, feito verniz, no rosto ilustre de quem forja a aparência de santa.
Eu queria dizer alguma coisa muito bonita com os dentes pintados por caleidoscópios, os olhos brilhando como fantasia de escola de samba, e no cabelo, a mais cintilante fita.
Mas poesia se cansou de flores e espera a próxima, inóspita, estação.
Deitada sobre essas linhas as entorta com sua densidade.
Entre linhas a palavra permanece pura,
germina na boca,
ganha idade,
ultrapassa sinônimos velhos,
multiplica seu peso e reação.
Muda, eu reconheço o que eu procurava de belo, linda moça, veja só...
Transformou-se em palavrão.