Instinto Sucinto


Nunca consegui definir a hora exata, coerente, perfeita pra escrever. Até por que os mais importantes textos não atravessam as cordas vocais, nem as extensões de ligamento de cérebro com as mãos.
Pois agora uso as duas...
Pois agora penso com vigorosa força vagarosa sobre o contraste do sono com uma xícara de café. Do sorriso doce com aquela lágrima salgada que veio como presente do passado, que prevê herdeiros da angustia corriqueira, dona da casa dos pesares que faz feira na segunda, a primeira não se lembra, a quarta vai pra quinta dos infernos. Sexta dos sentidos, das garrafas ao pé da mesa, não há comentário que espere, não há oração que o guarde, não há sentido que o disserte, não há sapato que a calce.
E sempre nesses momentos, quando as palavras saltam involuntariamente, que esvaziam o espaço que enrugaram com sua presença úmida e desconfortável.
E o vazio não é bem vindo. É preciso desgraça pra se manter vivo, é preciso desordem e lixo, é preciso motivação em forma de palavras brutas e inconvenientes... É preciso precisar de algo.
E dificilmente o necessário será ter paz... Paz é sinônimo de tédio, quem nunca reclamou dele? Tédio machuca?
Assim como o choro, que expele os excessos do ego de forma liquida, as palavras brincam com uma forma de chorar a seco pra não molhar o papel.
É mais do que um registro, é uma ofensa pra sua visão, pra sua lúdica formação vital. É um convite pro seu interior dotado de segredos que te excitam e que te intimidam, que te desafiam. E você precisa desenhá-los com calma, cuidado e maciez para que não sejam decifrados mesmo que estampados a olho nu.
Essas são as minhas horas de chorar letras, de encharcar o meu redor com frases, verbos e rimas só pra chamar atenção. De resgatar o que eu absorvi e que embolorou, tirar as manchas esverdeadas e me preparar pra uma nova congestão, vomitar e comer o que saiu inteiro, respirar a fumaça que saiu em pânico do meu cérebro em pane.
E por fim, me acomodar numa cama com lençol florido, deixar que meu maxilar defina a direção do meu sono. E me ver como uma caverna inabitável, na onde o único lobo que me apavora, me deixando sempre desperta para as minhas insanidades, é o que uiva rente aos meus tímpanos, com hálito quente nos meus ouvidos... De dentro pra fora.