De cá


Livre de tentações, vivo a margem do meu próprio ego. Sobrevivo a cada momento sem nunca pertencer a nenhum. É tão pequeno o presente quando avaliado o que já é passado... Uma partícula tão pequena, tão estéril, tão fácil de confundir e se perder... Eu não procuro direção, eu me entrego a mim mesma.

Livre de qualquer alivio imediato, intensifico tudo que vejo e ouço. Não importa se é por vaidade, não interessa o que de fato achem... Faço e gosto de fazer, a gosto do que é natural transmuto a minha dor e permaneço entre cicatrizes coloridas. Não bebo analgésicos, faço eu mesma o meu veneno.

Livre de qualquer perdão, não me rendo ao pagar pelo que não devo, nem devo pagar por nada. Já sou um corpo todo de pecado ativo a não renegar seus instintos e que não hesita em criar mais uma centena de pecados originais... Eu não rezo, eu viro mais um copo.

Livre de qualquer conflito, aceito minhas duvidas e me proponho a domesticá-las... Nada de desespero, concentração e respiração leve. Grita por dentro, tampo os olhos e elas perdem o destaque. Não gosto de incertezas, invento eu mesma os meus amores.

Livre de qualquer liberdade, não suporto pensar que ainda estou presa a mim, prisão perpetua de carne e cigarros. Pulmão defumado. Coração diabético. Não sou livre, mas tenho liberdade pra pensar que sou. Não preciso saber o limite da minha voz pra poder gritar, não preciso consentir com o clima da tarde pra deixar de me suspender em sentimentos estrangeiros. É verdade clandestina que me intriga, é mentira clichê que me surpreende.