Prato nobre

Belisquei um pedaço de futuro, seu gemido foi de censura, mas de repente... Mudo.

Botei um pedaço em minha língua e ele se derreteu feito suspiro, suspirei quando o engolia, e ele desceu num rastro de um grito.

Quieto futuro! Você há de ser digerido... Não se debata, seus medos serão derretidos, meu pâncreas tem de fazer isso.

Meu pedacinho de futuro ficou amarelo, deve ter sido pelo suco biliar. Delgado, grosso e moderado, daqui há pouco tomarás ar.

Berrou feito uma cólica: “Meus medos estão indo embora pelas paredes intestinosas. Como faz para parar?”

Disse: -Acalma-te futuro, estás sendo o meu presente e estou prestes a te decifrar.

Retrucou: “Você está errada, seu corpo não pode me manipular, sou pequeno mas não sou frágil, vejo luz no fim do túnel, por lá hei de escapar."

E saiu como o tiro pela culatra, limpando todo de mim. Eu vi, foi uma grande cagada, eu não posso me arriscar assim.

O futuro não é pra ser engolido, tá lá servindo marketing para o que é atual. Presente agora te degusto, pra sempre meu prato principal.