Eu queria ser uma fotografia.
Eu queria ser uma fotografia...
Ficar renunciada em uma única posição, deixar todos os conceitos transpassarem perante a ótica de quem vislumbra.
Uma pose qualquer, fundiria em mim todos os significados que extrai do mundo. Um cigarro no dedo, uma paisagem de concreto perdida em meus olhos. Tudo que eu diria em meus extremos, solidificados e imutáveis.
Não haveria oscilações de humor e meu sorriso não se apagaria, nem meu cigarro acabaria.
Confortavelmente, eu eternizaria sentada em um mundo pessoal. Em um mundo que funcionaria como esse: Eu sendo reflexos das opiniões alheias, conceitos pré-fabricados e uma dose do que eu não sou pra mostrar quem eu fui. A diferença é que eu permaneceria, meu cérebro estaria intacto, e não sofreria com o tédio. Cada vez que eu me mostrasse, seria ainda mais belo pela persistência de permitir o tempo bronzear o meu papel. Ele jamais passaria em branco.
A insistência bruta da imobilidade mostrando tudo que eu não sou capaz: Ser apenas uma imagem.
Quanto as minhas influências, isso já é papel pra outro papel. Talvez um de folha grossa onde eu possa desenhar com minha mão densa sem correr o risco de rasgá-la.
Cores, mais cores e nada mais que uma fotografia novamente. Na onde tudo se contrai em uma idéia fixa de imortalidade, na onde tudo se dilata nos extremos das possibilidades.